segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

INTERPRETAÇÃO E ANÁLISES DE ELEMENTOS LINGUÍSTICOS DO ARTIGO DE OPINIÃO TRANSCRITO ABAIXO:


Violência no Trânsito e educação


Nossa educação compreende algo ao mesmo tempo complexo e belo. Requerendo, assim, uma formação que se estende para além da pura e simples aquisição de habilidades, destrezas e competências técnicas. Esses quesitos são, sem dúvida alguma, importantes, e devem fazer parte do processo educativo. Contudo, faz-se necessário irmos além dos objetivos produtivistas da eficácia e da eficiência quando tratamos da educação das pessoas.
 Nossa educação é, cada vez mais, desafiada a contemplar questões como o respeito às diferenças, a responsabilidade social e ecológica e a cidadania. Uma educação deste tipo exige um começo que se dá na mais tenra idade e se prolonga por toda a vida. É nessa perspectiva que a educação escolar se constitui em mais um importante espaço para a formação de pessoas mais solidárias e mais cooperativas, colaborando para que nos construamos mais desarmados de tanta intolerância e tanta competição.
Se continuarmos neste caminho, logo chegaremos à falência global do nosso modo de vida em sociedade. Exagero? Pessimismo? Pode até ser. Porém, como entender, por exemplo, que duas pessoas possam ter sido violentamente atropeladas enquanto atravessavam a rua, justo numa faixa de segurança para pedestres? Refiro-me aos fatos ocorridos aqui em Santa Maria dias atrás.
 Esses dois tristes eventos se tornaram ainda mais dramáticos e emblemáticos, do absurdo a que se pode chegar, ao sabermos que uma das pessoas atropelada era uma menina de 5 anos de idade e, a outra, um idoso de 87 anos. A menina está internada em um hospital, e o idoso faleceu em função do atropelamento.
 Enquanto isso, seguimos assistindo campanhas contra a violência no trânsito que privilegiam a fiscalização, as multas e um discurso midiático de aterrorizar as pessoas com imagens chocantes. Isso é o que tem sido feito desde sempre e não tem funcionado. A cada feriado prolongado o número de acidentes com mortos e feridos se repete, quando não aumenta.
 Já escrevi em outra ocasião que não existem motoristas violentos, mas, sim, pessoas violentas e intolerantes. Nestas horas é bom lembrar o mestre maior da educação brasileira, Paulo Freire, quando ele ensinava que se a educação sozinha não melhora o mundo, o mundo também não melhora sem educação. Como a educação é um processo longo e de resultados difíceis de avaliar rapidamente, é bem mais fácil fazer atalhos, mesmo sabendo que não vão nos levar a melhores lugares.

VALDO BARCELOS|Professor da UFSM e escritor

Artigo publicado no Diário de Santa Maria, em 30/04/2011 | N° 2805

INTERPRETAÇÃO E ANÁLISE DO TEXTO


            O texto do artigo é narrado predominantemente em primeira pessoa do plural, exceto no último parágrafo, em que o professor se refere a outro texto de sua autoria, possivelmente artigo. Nele o autor diz citar Paulo Freire para justificar a necessidade de se educar as pessoas, incluindo-se os motoristas, para “acabar com a violência e a intolerância no trânsito brasileiro”. Deixando claro que a solução não advém da punição e de campanhas esporádicas e sim através de um processo educacional à sociedade como um todo.
            A leitura do artigo chama a atenção do leitor já a partir de seu próprio título. Nele a violência no trânsito é relacionada com a educação. A curiosidade do interlocutor se prende ao fato de que educação não é algo, aparentemente, associado com violência, especialmente por ter sido utilizada no texto a idéia de soma empregada, através da conjunção aditiva “e”. O autor ao escolher esse tipo de composição parece impressionar, desde o início, as pessoas interessadas em debater a problemática da violência do trânsito brasileiro, mas também aquelas que lidam ou se interessam em discutir a educação. Desta forma o tema proposto é ampliado; e, ganha uma dimensão muito maior do que simplesmente a de se mencionar o fenômeno em pauta.
            O corpo do artigo é surpreendente. Na sua introdução e, no segundo parágrafo, o autor não faz nenhuma referência à violência no trânsito, utiliza-os para analisar o significado de uma educação que proporciona ao aprendiz uma formação para habilidades explicitadas por ele, como sendo de “destrezas e competências técnicas”. Porém, apesar de não repudiar esse tipo de educação, afirma que ela não pode se resumir a isso.  Deve ser mais abrangente que e ir além dos “objetivos produtivistas da eficácia e da eficiência”, se tornar uma  educação que tenha as pessoas como foco principal.
            Numa linguagem formal e cortês, o professor não desaprova totalmente a concepção de educação até o momento em evidência na sociedade brasileira, tanto que de modo positivo a define como “algo complexo e belo”. No entanto deixa clara a sua preferência – uma educação que seja capaz de formar as pessoas para aprender a conviver com “o respeito às diferenças, à responsabilidade social e ecológica e à cidadania”. Um tipo de educação que não começa e termina na escola e nem tem um período determinado como a escolar. É um processo de socialização que deve começar desde a “mais tenra idade” e que deve se prolongar durante toda a vida do (a) cidadão (ã), tendo a escola como um lócus privilegiado, mas que não é apenas nela que o indivíduo a adquire, pois precisa fazer parte de todo e qualquer espaço de convivência social. Por isso afirma ele
 [...] a educação escolar se constitui em mais um importante espaço para a formação de pessoas mais solidárias e mais cooperativas, colaborando para que nos construamos mais desarmados de tanta intolerância e tanta competição. ( BARCELOS, p. 1, 2011).
            Segundo o autor, ao continuarmos convivendo com tanta intolerância e com tanta competição, não tardaremos a alcançar “a falência global do nosso modo de vida em sociedade”. Essa afirmação é condicionante e introduzida pela conjunção “SE”, parecendo demonstrar que a responsabilidade em fazer com que isso não venha ocorrer depende de mudanças de atitudes comportamentais das pessoas da sociedade brasileira, portanto, nossa. Isso só será possível ao assumirmos a efetivação de uma educação que possibilite a formação de cidadãos críticos e solidários. Quem sabe iniciarmos educando as pessoas para respeitarem às leis do trânsito, por exemplo! O articulista sutilmente transparece sua indignação com a falta de respeito a essas leis e, logicamente, às vidas das pessoas que, segundo ele, foram violentamente atropeladas, ao atravessar uma faixa de segurança de pedestre em Santa Catarina, dias atrás. Sua revolta ainda é maior pelo fato de que as vítimas do atropelamento foram uma criança de 5 anos e um idoso de 87 anos, seres humanos merecedores de atenção e cuidados maiores, dada suas condições fragilidade.
            É notável a sensibilidade do autor ao se reportar a um acontecimento atual e localizado, mas que o dimensiona para o contexto da violência do trânsito nacional, inserindo-o nas tragédias costumeiramente assistidas por cada um de nós a cada fim de semana e em dias feriados no país. Ainda traça um paralelo entre o fato localizado e a situação nacional; as providências assumidas para minorar a problemática; a relação de causalidade do fenômeno da violência  com o tipo de educação oferecido no Brasil; e, o que deveria ocorrer de fato, segundo ele para solucionar o problema – educação para o exercício da cidadania.
            Por fim, de modo velado, o articulista critica os instrumentos adotados pelo Brasil para solucionar o problema, como as campanhas episodicamente veiculadas na mídia nacional, sem nenhum caráter educativo e que apenas tem se caracterizado pela fiscalização, pelas multas e pelos discursos aterrorizantes divulgados nos meios de comunicação. Essa contestação nos leva a compreender que a saída proposta e defendida pelo autor é a educação contínua das pessoas, entre elas – os motoristas. Pensamento com o qual eu comungo – Educação com práticas cidadãs para o exercício da cidadania.
            Enquanto recursos linguísticos no texto merecem destaques:
A)    O uso da conjunção aditiva “e” no título do artigo, o que faz estabelecer um paralelo entre a violência no trânsito e o tipo de educação que é oferecida as pessoas no Brasil.
B)    Os adjetivos – complexo e belo se referindo à educação, àquela que requer além da pura e simples aquisição de habilidades, destrezas e competências técnicas.
C)    “sem dúvida alguma” - expressão utilizada para se referir a importância dada aos quesitos da educação que forma para a aquisição de habilidades, destrezas e competência técnicas.
D)    “contudo” – conjunção empregada para afirmar que a educação precisa ir além da aquisição de competências técnicas e destrezas ou mesmo de habilidades.
E)     O pronome “nossa”, referindo-se à educação brasileira. Utilizado na primeira pessoa do plural atribui ao texto um caráter de impessoalidade, geralmente próprio deste tipo de gênero – artigo jornalístico.
F)     “cada vez mais” – acentua no texto a intensidade com que a nossa educação é desafiada a contemplar valores como o respeito às diferenças, a responsabilidade social e ecológica e a cidadania.
G)    “É nessa perspectiva que”- refere-se à educação que contemple o respeito às diferenças, a responsabilidade social e ecológica e a cidadania.
H)    “em mais um” – relacionando-se com espaço escolar de formação de pessoas mais solidárias e cooperativas, em contraposição a ser a escola o único espaço educativo para esse tipo de formação.
I)       “Se”- conjunção condicional – reporta-se aos termos do parágrafo anterior “tanta intolerância” e “tanta competição”
J)       “Refiro-me – primeira pessoa gramatical, diferente da posição do narrador em praticamente todo texto, parece deixar transparecer a angústia do locutor com a tragédia acontecida e situar a sua concepção a respeito do fenômeno da violência em questão.
K)    Os adjetivos ”tristes”, “dramáticos” e “emblemáticos” – caracterizam os eventos narrados. Entretanto, os dois últimos atribuem maior dramaticidade as situações, pelo fato das pessoas atropeladas terem sido uma criança e uma pessoa idosa. O estado emocional do narrador fica transparente no texto, através destes adjetivos e de outro também – “absurdo” relacionado também com os eventos relatados.
L)     “Enquanto isso” – estabelece um paralelismo entre a violência no trânsito cada vez mais crescente, o desrespeito as pessoas, as vidas alheias e a existência de estratégias inócuas e inconseqüentes que não resolve o fenômeno em questão.

 Enildo da Paixão Rodrigues       
           

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